Dempsey e Makepeace: “Nunca sabemos quando podemos ter sorte”


“Control to Charlie Five, come in, over…” era uma frase ouvida com frequência nos ecrãs durante os anos 80. “Dempsey e Makepeace foi uma série policial em que a química funcionou realmente”, resume Michael Brandon. “Era sobre um choque de culturas, um choque entre os sexos e, por acaso, também era uma série policial”, afirma Glynis Barber; “eles, de facto, não se entendem, mas também há uma espécie de flirt. Portanto, para mim, a série era mais sobre o relacionamento e não sobre os casos em que se envolviam”. Segue-se uma viagem pelos bastidores de uma série que cativou 20 milhões de espectadores.

Em Londres, Dempsey era um peixe fora de água, o que aconteceu também ao ator Michael Feldman (Brandon), que viajou da Califórnia para Inglaterra, encontrando um clima que o desnorteou. Ainda por cima, teve de aguardar mais de um mês, até que Glynis Sharon Van Der Reit (Barber), uma jovem natural da África do Sul, terminasse as filmagens da série televisiva Jane.

O choque cultural apanhou Michael Brandon de surpresa. “Quando cheguei a Londres, deparei-me com 28 dias seguidos de chuva… não conhecia ninguém. Se saía, perdia-me. Uma vez, o porteiro do hotel falou comigo, o que me deixou muito satisfeito! Passava o tempo no quarto a olhar para o teto. Às vezes, apetecia-me ligar para o room service e pedir uma corda! Era deprimente”, relembra o ator, que entrava no automóvel pelo lado errado…

Terminado o trabalho em Jane, Glynis Barber foi informada de que devia ir conhecer Brandon ao Ritz, onde estava instalado.

“Disseram-me que era americano, e eu tinha trabalhado num filme obscuro com um ator americano, o que achei uma experiência horrenda. Mas disseram-me, ‘vá lá, os americanos não são todos iguais…’ Quando voltei a casa, onde vivia com o meu namorado, ele perguntou, ‘que tal é ele?’ E eu respondi, ‘exatamente o que eu previa!’”

Na rodagem, prosseguiu a confusão mental de Brandon: “Não conhecia nenhum dos atores nem o seu passado, apenas aqueles que apareciam raramente e eram famosos.” A atriz inglesa Catriona MacColl (celebrizada por vários filmes de Lucio Fulci) surge em «Hors de Combat», desempenhando uma americana. A cantora Suzi Quatro faz uma aparição na segunda temporada, em «Love You to Death». E a terceira temporada abre com o episódio duplo «The Burning», onde uma antiga Bond girl, a americana Jill St. John, interpreta a vilã.

Michael Brandon também não gostou nada de Barber, e teve várias reuniões com a produção, pedindo que se livrassem dela. Diziam-lhe que o iam fazer, mas nunca aconteceu, porque adoravam a dinâmica entre ambos. A hostilidade e desconfiança escondiam uma atração entre pólos opostos. Para espanto de todos, começou a ser difícil a Michael e Glynis esconderem, no ecrã, o que sentiam um pelo outro.

O episódio-piloto «Armed and Extremely Dangerous» foi filmado em Londres, embora tenha sido enviado um operador de câmara a Nova Iorque para captar imagens noturnas da cidade. Quando Dempsey atende o telefone, já nos encontramos num armazém em Peckham, a sudeste de Londres, onde praticamente todos os interiores da série foram filmados. Era aqui o quartel-general da equipa, os escritórios do SI 10, a unidade secreta da Scotland Yard. O pub da esquina também foi usado várias vezes, e era aí que a equipa festejava quando as filmagens terminavam. Era também o local favorito de Ray Smith (Spikings).

O ator galês que desempenhou o Superintendente-Chefe do SI 10 é recordado por Michael e Glynis com afeto. Recorde-se que Ray Smith faleceu em 1991, aos 55 anos.

“Era um ator e um homem maravilhoso”, diz Brandon, “às vezes, parecia-me ter o poder de Richard Burton. E era capaz de dizer tudo com os olhos. É difícil encontrar o ‘chefe’, alguém que consiga manter a autoridade, e ele fazia-o com uma elegância enorme. Quase fervia… Dempsey estava sempre a irritá-lo e, antes que Spikings explodisse, já tinha feito quase uma peça em três atos, sem dizer nada”.

“Nós tínhamos aquela relação intensa”, comenta Glynis, “e é difícil ser o terceiro personagem na trama, mas Ray conseguia impor-se de modo brilhante. E era também um excelente contraste com Dempsey, porque também era duro e defendia com afinco a sua posição.” Frases como, “mandem mais agentes para lá! Só lá tenho um maldito ianque que se julga o Clint Eastwood e a minha única boa detetive. A ela, não quero perder!”, “maldição, Dempsey! Tinha de matar cinco polícias? Não podia ter matado um e ferido os outros?” ou “that bloody yank!”, eram as típicas expressões do inteligente Spikings.

Em Peckham e nas redondezas, como Old Kent Road, filmaram-se inúmeros exteriores. Quem assistiu a Dempsey e Makepeace (campeão de audiências em Portugal nos anos 80) recorda certamente várias sequências filmadas com os protagonistas ao volante. Na verdade, estavam sempre numa espécie de plataforma, a serem filmados. Michael Brandon lembra-se de uma cena em que parecem envolvidos numa feroz perseguição e, em fundo, se vê uma bicicleta a passar muito mais rápido…

Michael Brandon ficou horrorizado ao saber que Dempsey e Makepeace ia ser filmado em 16 mm, em vez de 35. (Quando foi exibida nos EUA, o formato foi convertido para 35 mm.) Os responsáveis pelo guarda-roupa ficaram aborrecidos com o ator, por terem de percorrer com ele várias lojas em busca das roupas para o personagem. Brandon achou difícil capturar o ar descuidado de Dempsey e teve ironicamente de comprar roupa mais cara para obter o ar casual do polícia.

Glynis Barber procurou ser eclética no modo de vestir. “Tentei misturar várias ideias, um laço, um blusão de cabedal… acho que, por vezes, pareço uma palerma, vestida assim!” Barber também não tinha um ar muito convincente quando disparava a sua arma de olhos fechados: “Estavam-me sempre a dizer, ‘abre os olhos quando disparares’. Cheguei a queimar-me com aquilo, apanhava com estilhaços, queimei o cabelo… mas o pior, para mim, eram as explosões, já que nunca saíam como eles as descreviam de antemão.”

A série foi vista por 20 milhões de pessoas, um sucesso mundial estrondoso. Nas palavras de Michael Brandon, “quando estreou, as críticas na imprensa foram péssimas. Arrasaram Dempsey e Makepeace, mas o público adorou desde o primeiro minuto. Por isso, os críticos voltaram atrás e começaram a elogiar-nos! Ainda hoje, os jornalistas pensam que nos inventaram. Apesar disso, a série continha algo que não agradou à indústria. Julgo que Ray Smith devia ter ganho algum prémio pelo seu trabalho”. Glynis Barber concorda: “Sempre foi uma série politicamente incorreta.”

Num dos primeiros dias de trabalho, Michael Brandon lesionou um joelho num salto. “Tive de fazer várias cenas perigosas. Julgo que até foi enviado um memorando para a LWT [London Weekend Television], dizendo, ‘exige-se a presença de duplos no set’! Mas Roy [o coordenador de duplos] andava por ali, até desempenhou um pequeno papel. Nunca entendi…”

“A imagem do episódio-piloto é mais granulosa, o que acho interessante”, acrescenta Glynis. “Mas acho abrupta a transição para o segundo, falta algum sentido de continuidade e o colorido é diferente.” Michael acrescenta: “Acho que ainda estavam a experimentar a ‘exposição’, era algo relacionado com os laboratórios.”

Curiosamente, o primeiro episódio, que explica o motivo pelo qual Dempsey foi enviado para Londres, foi o terceiro a ser filmado. A produção quis dar tempo a Michael Brandon e Glynis Barber para que se conhecessem melhor. «The Squeeze» foi filmado primeiro. “Gravámos às escuras, não sabíamos como os dois se tinham conhecido, o que só foi explicado no episódio-piloto, filmado depois. Disseram-nos, ‘ele é americano, ela é inglesa e não se dão bem’ ou coisa do género”, relata Brandon.

“Eu era autenticamente um estranho em terra estranha. Não percebia o sotaque cockney… quando alguém me falava, eu respondia, ‘não, obrigado, não quero chá…’ E diziam, ‘não é isso, Mike’. Muitas vezes, a equipa falava por gestos.”

“Nesses primeiros tempos, em Peckham, aquilo era tudo cinzento e esverdeado… e eu a pensar, ‘no que me fui meter’ [risos]. Julgo que as melhores cenas não eram as de pancadaria, perseguições, tiroteios nem as do trabalho de investigação”, reflete Michael Brandon. “Acho que eram aqueles momentos entre mim e Glynis, em que ficava uma insinuação no ar…” “Foi há quase 30 anos”, contrapõe Barber, “e não parece ter passado tanto tempo”.

“Junto ao rio, uma coisa espantou-me”, recorda Brandon. “Estava um tipo a enrolar um cigarro, e a equipa foi lá dizer-lhe para se afastar. Ele respondeu, ‘tenho tanto direito a estar aqui como vocês!’ e não se mexeu. Nos EUA, há sempre polícias de moto a acompanharem as filmagens, e cuja função é justamente afastar tipos como este. Mas a equipa começou a montar o equipamento noutro lado e deixou lá ficar o homem sossegado, o que me deixou estupefacto!”

Outro problema residia nos argumentos que os atores recebiam. Segundo Glynis Barber, pareciam “adaptações de outros que provavelmente andavam em circulação há algum tempo, destinados a outras séries”. 

Muitas vezes, as falas não soavam verídicas aos atores, que as reescreveram. Era o que Brandon fazia no trailer, entre takes, adicionando piadas e a cumplicidade aos diálogos. O ator escreveria praticamente sozinho um dos melhores episódios, «The Bogeyman», onde surge o carismático vilão Keith Lymon (interpretado por Nick Brimble). 

O argumento de «Armed and Extremely Dangerous», escrito por Ranald Graham, apresentou ao público a dupla de detetives, mas os atores acham que contém diversas falhas, algumas hilariantes: “Não percebemos nada da história desse primeiro episódio… nem o público!” comenta Glynis Barber. Por exemplo, não se entende por que motivo Dempsey está sempre a puxar dos galões em relação a Makepeace, por ser tenente, e ela, sargento. Na polícia britânica não há tenentes… “Ranald era bom nos diálogos”, diz Michael Brandon, “mas, na dedução…” Também é estranho que Dempsey mate cinco polícias e não seja punido!

Neste episódio, e em várias outras situações, Brandon teve de superar o seu medo de alturas, já que sofre de vertigens. Glynis recorda, com humor, o coordenador de duplos (e também duplo) Roy Alon: “O Roy… o seu passatempo favorito era saltar de prédios. Adorava fazê-lo!” Brandon acrescenta: “Ele costumava chamar-nos ‘Flower’ e ‘Sunshine’, mas nunca percebi quem era quem!”

“Começámos a filmar em março de 1984, se não me falha a memória, e as temperaturas não eram muito baixas”, recapitula Glynis. “Mas, quando iniciámos a segunda temporada, em janeiro de 1985, estava tanto frio que eu nem conseguia mexer o queixo…” A primeira temporada foi filmada sem interrupções até ao outono, pelo que, no genérico inicial, vemos cenas dos episódios posteriores.

“Quando me lembro desses tempos, não me recordo de um único dia de folga”, diz Glynis Barber. “Sei que filmávamos aos sábados e, por vezes, aos domingos. Começávamos ao amanhecer e, supostamente, devíamos terminar às 19:00, mas nunca aconteceu, na primeira temporada. Pagavam horas extraordinárias à equipa. Michael lucrou bastante à custa disso, pelo que tiveram de pôr travão na segunda temporada…”

Brandon e Barber recordam que passaram muito tempo a filmar nas docas e em locais nos arredores de Peckham, como Old Kent Road. Segundo Glynis, “foi invulgar, pois filmávamos tudo em exteriores. O único cenário era o interior do SI 10. Passámos longos dias nesse armazém. E o escritório era realmente pequeno como parece no ecrã. As cenas de exteriores eram belas, por vezes… um mercado de carne e outros sítios, como uma morgue. Dessa vez, senti-me mesmo agoniada”.

Já a casa de Makepeace, onde se desenrolam várias cenas, situava-se em Blackheath, não muito longe do quartel-general. “Era muito difícil filmar nos escritórios do SI 10”, refere a atriz. “Parece autêntico, mas os tetos eram baixos e surgiam imensas dificuldades com a iluminação.”

Hoje em dia, a opinião de Brandon é curiosa:

“Quando vi Glynis pela primeira vez, tive a estranha sensação de que iria fazer sempre parte da minha vida. Não sabia era como. Na altura, eu tinha um diário, que encontrei recentemente, e escrevi que fiquei impressionado com ela, mas acabei com ‘cuidado!’ e sublinhei várias vezes a palavra”, ri-se o ator.

“Todo o mundo de Dempsey e Makepeace era muito masculino, desde os atores à equipa, argumentistas… lembro-me de sentir isso na época”, recapitula Barber. “Era frustrante, porque eu era a única mulher nas reuniões semanais acerca do argumento. Havia um elemento chauvinista naquilo. Hoje seria diferente, claro. As coisas evoluíram.”

Várias situações curiosas ocorreram nos bastidores. “Tive uma folga de 10 dias e, quando voltei, vinha tão moreno que tive de fazer de mecânico grego!”, lembra Brandon. Durante a primeira temporada, o ator ganhou o hábito de andar na festa até tarde, “pelo que os dias eram longos…” Enquanto eram filmados os grandes planos de Glynis Barber, Michael chegava a adormecer no set.

A história de Dempsey é algo reminiscente de Serpico – um polícia honesto que descobre um caso de corrupção na força nova-iorquina, NYPD. Com ideias de prender o chefe da polícia, Dempsey é demovido destas furiosas intenções pelos seus superiores hierárquicos. A solução é enviá-lo para Londres, onde está a ser criada uma nova unidade especial de combate ao crime, o SI 10, integrada na Scotland Yard. A parceira de James Dempsey é Lady Harriet Makepeace, descendente da aristocracia. O chefe de ambos, Gordon Spikings, desempenhado magistralmente por Ray Smith, não simpatiza com a irreverência e modos abrutalhados do “ianque”, mas é obrigado a reconhecer a sua competência.

Mas o que realmente tornou a série num sucesso mundial foi a química entre Glynis Barber e Michael Brandon. Os atores acabariam por casar em 1989, tiveram um filho e ainda hoje estão juntos.

«The Squeeze» foi o segundo episódio a ser exibido. Como se tratava de uma coprodução entre os EUA e a Inglaterra, os produtores americanos queriam ver mais locais turísticos de Londres, e não ficaram totalmente satisfeitos com este trabalho inicial. Portanto, nas histórias subsequentes, várias sequências desenrolam-se em Covent Garden ou na Torre de Londres. “Os americanos queriam ver Inglaterra…”, desabafa Brandon.

Foi em «The Squeeze» que Michael e Glynis filmaram a primeira cena juntos, embora nenhum dos dois se recorde ao certo qual foi. A atriz acha que foi a sequência em que vai buscar Dempsey a casa. Já o ator acha que foi a de um telefonema feito num pub, junto ao rio, onde se vê ancorado o famoso navio Cutty Sark. (Quem estiver atento ao genérico de abertura, pode reparar nos mastros da embarcação, atrás de Spikings.)

Michael Brandon graceja: “Sabem, os técnicos de pirotecnia ingleses variam entre o melhor que há e ‘o que raio está este tipo a fazer com um detonador?’…” Quando a equipa preparou uma destas explosões, em que a porta de uma loja de apostas rebenta, os dois atores estavam dentro do carro, do lado oposto da rua. Michael Brandon reparou que os técnicos estavam muito mais longe. “Que interessante, olha para onde estão eles”, disse Brandon à colega. “A milhas de distância, por detrás de um escudo de plexiglas…” Por isso, desceu o vidro e perguntou, “ei, desculpem…?” “Não é perigoso!”, foi a resposta. “Então por que estão tão longe?”, gritou o ator.

Inconformado, Brandon disse-lhes que as lentes podiam captar ângulos amplos, sugeriu dois takes e achou melhor ir para o trailer, enquanto detonavam a porta. Quando lá estava, aguardando com Glynis, ouviu-se uma ensurdecedora explosão, cujo impacto levantou o próprio trailer no ar!

“Saímos, estarrecidos. Eles tinham rebentado, não só com a porta, mas também com a loja e com o cenário inteiro. Ouviram-se sirenes da Brigada de Minas, julgando tratar-se de um ataque terrorista. Se nos tivéssemos mantido àquela distância, tínhamos morrido os dois.”

Mas a cena que os atores descrevem como “infame”, ocorreu logo em «The Squeeze», em que os dois, dentro de um Mini Cooper, são levantados por um monta-cargas e enfiados numa máquina de esmagar automóveis.

“Levantaram o carro”, recapitula Glynis Barber, “sem qualquer mecanismo adicional, meteram-nos naquela prensa e começaram a apertar. Os vidros partiram, o para-brisas saltou e o tejadilho não parava de descer. Eu pareço meia histérica nessa cena, porque realmente estava! Só pensava, ‘eles precisam de nós!… temos um contrato, é o primeiro episódio, por que nos fazem isto?’”

Para Michael também foi um susto: “Não fiquei nada contente com aquilo! Fomos apanhados de surpresa. Puxam-nos com o guindaste e metem-nos lá. Eu estava a disparar para todo o lado… provavelmente a tentar acertar no realizador! Podia ter sido a série mais curta de sempre da história da televisão!”

O sucesso de Dempsey e Makepeace deu um novo alento à carreira estagnada de Michael Brandon, embora este sempre tivesse resistido a filmar uma série de TV. Mas acabou-se a privacidade da dupla de atores. Todos os dias surgiam nas primeiras páginas dos tabloides, eram perseguidos e inventavam histórias sobre eles.

A atriz tornou-se, segundo Brandon, na sua primeira amiga em Inglaterra, mostrou-lhe a cidade, mas, durante a primeira temporada, a situação não passou disso. Brandon, que era divorciado, assim se manteve, e Glynis Barber, também divorciada, separou-se do namorado. Num intervalo, antes da segunda temporada, ambos embarcaram numa atarefada viagem promocional pelos Estados Unidos. Aí, a relação ter-se-á alterado, o que despoletou o furor da imprensa – até se especulou que iam casar! “Foi um pandemónio”, diz Glynis. “Foi animalesco”, critica Michael.

No fim da digressão, Michael Brandon estava tão cansado de falar sobre a série que só queria ir para casa. “E foi então que pensei em Londres, pela primeira vez, como minha casa.”

O casal manteve-se unido durante esta época, mas, na terceira temporada, ter-se-á separado e discutia com frequência no set. Mais tarde, reconciliaram-se, pelos vistos, de modo duradouro. Hoje, o filho de ambos, Alexander, tem 20 anos.

Michael Brandon: “Recordo-me de o meu carro avariar numa rua. Saí, levantei o capot, estava à procura do carburador ou coisa assim… de repente, olho em meu redor e vejo umas 30 pessoas, todas à procura de papel e caneta. E uma delas pergunta, ‘vocês vão casar?’ E a minha resposta no momento foi, ‘hei, estou a tentar arranjar o meu carro, caramba!’ Tinha sido publicado um artigo inventado por um jornalista que eu nem sequer conhecia…”

A música de Dempsey and Makepeace, da autoria de Alan Parker, também ficou famosa e seria, ela própria um êxito. Pode parecer estranho que nenhum dos protagonistas a aprecie particularmente. “Acho que deviam ter expandido o reportório”, critica Glynis Barber. “Ouve-se sempre o mesmo tema, embora tocado de modo diferente; ou é romântico ou adaptado a outras situações…” concorda Michael Brandon.

Mas o tempo passou e os computadores têm um ar estranho, os automóveis são outros, os meios de comunicação também. Brandon é da opinião que “se houvesse telemóveis nesses tempos, muito da série não funcionaria”. “Está datado”, refere Glynis, “mas julgo que, na essência, permanece atual”. Ambos se mostram felizes por terem participado em algo de que tantas pessoas gostaram, e continuam a receber cartas de fãs. No fim de contas, mudou as vidas de ambos, a nível pessoal.

A arma de Dempsey era uma Magnum 357 verdadeira, com o cano bloqueado. Terminada a série, foi oferecida ao ator, com a seguinte inscrição: “Para Michael. Dempsey e Makepeace. 1984-1986. Com estima, da equipa.” “Eu já sabia que era esse o presente, só pelo peso, pois tornara-se parte do meu próprio peso. Era outra personagem. ‘Alvejei’ muitos elementos da equipa com ela, sem querer, pois os fragmentos que se soltavam, quando eu disparava, atingiam assistentes de iluminação e operadores de câmara.”

Tendo em conta o sucesso, é de estranhar que a série tenha terminado após três temporadas e 30 episódios. “A Tribune, na América, quis continuar, mas a LWT disse que era o fim do contrato de três anos”, revela Glynis Barber. Refira-se que a série foi editada em DVD em Portugal pela Prisvideo, em 2004, na versão integral, ao passo que, na edição inglesa de 2006, vários episódios sofreram cortes.

O episódio-piloto termina com Dempsey e Makepeace caminhando diante do Royal Albert Hall. A detetive pergunta-lhe por que motivo ele reservara uma suite de lua-de-mel no Park Lane Hotel. Dempsey responde: “O meu pai dizia sempre que, quando eu fosse para uma nova cidade, devia sempre reservar a suite de lua-de-mel. Como ele dizia, ‘nunca sabemos quando podemos ter sorte’.”

David Furtado

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