Elizabeth Taylor BUtterfield8

A vida e a carreira de Elizabeth Taylor, um ano depois da sua morte: Olhos Violeta


Elizabeth Taylor foi a atriz mais bem paga do mundo; em tempos, foi considerada a mais bonita. Símbolo de uma Hollywood que já não existe, foi também humanitária, incompreendida, uma lenda com tantas faces como os diamantes que adorava, mas que, para ela, estavam em segundo lugar relativamente às pessoas.

Passei por tudo. Sou a Mãe Coragem.

Elizabeth Rosemond Taylor chegou aos estúdios da MGM, pouco antes do começo da II Guerra Mundial. Nascera a 27 de Fevereiro de 1932, a Norte de Londres. A sua mãe fora atriz de teatro e o pai era negociante de arte. Foi justamente a guerra que motivou os pais a emigrarem para os EUA, instalando-se em Los Angeles. Desde criança, surpreendia todos com a sua beleza e não só. De acordo com a mãe, “os miúdos rapidamente perdiam o sotaque, mas Elizabeth foi capaz de alternar o americano com o inglês, de acordo com o filme em causa”.

Durante uma visita aos estúdios, conheceu Louis Burt Mayer, que fundara a Metro-Goldwyn-Mayer em 1924 e a geria como um ditador. Mayer quis dar um contrato à criança, mas a mãe achou que Elizabeth receberia mais atenção na Universal, pelo que a levou lá. Estávamos em 1941 e, com apenas nove anos, Taylor estreou-se num filme série B, There’s One Born Every Minute, com um salário de 100 dólares por semana, mas o diretor de casting disse:

“Os olhos dela são muito velhos. Não tem rosto de criança.”

E foi despedida. Anos mais tarde, perguntaram-lhe se queria ser atriz: “Sim, claro, porque a minha mãe o tinha sido. O meu pai não queria, mas eu e a mãe agimos sem ele saber.”

Regressou à MGM, onde lhe atribuíram um papel secundário em Lassie Come Home (1943), conhecendo Roddy McDowall que ficaria para sempre seu amigo. Mas, para a jovem Taylor, o mundo do cinema provou desde logo ser uma complicação. Em 1987, diria:

“Constantemente confrontada com situações adultas e impedida de confraternizar com os meus colegas, parei de ser criança, mal comecei a trabalhar em filmes.”

O pai alcoólico começou a bater-lhe, indignado com o facto de Elizabeth ganhar mais dinheiro que ele, situação que a marcaria para a vida inteira. Mas o papel em Lassie cativou milhões de adultos e crianças, e o Hollywood Reporter pressagiou: “Parece que Elizabeth Taylor chegou para ficar.” Em janeiro de 1953, a atriz assinou um contrato de sete anos com a MGM, começando por ganhar 100 dólares por semana, soma que rapidamente ascendeu aos 750.

Participou em Jane Eyre com Orson Welles, roubando o protagonismo às outras atrizes. Welles comentou: “Avisem-me quando ela for crescida.” Foi com ele que Elizabeth aprendeu que um ator pode dominar uma produção inteira. Aos 11 anos, já tentava conquistar os papéis por si mesma, convencendo o realizador Clarence Brown a chamá-la para o papel principal em National Velvet (1944). Também junto do produtor, Elizabeth foi firme, dizendo que tinha a idade certa para interpretar ‘Velvet Brown’, que adorava cavalos, sabia montar e tinha sotaque britânico. Disseram-lhe que era demasiado baixa. “Bom, eu cresço!” Conseguiu o papel. Nas filmagens, chamava as atenções de toda a gente. Um executivo diria, em 1999, que “embora fosse uma criança, era belíssima e tinha aqueles olhos espetaculares”.

O realizador, que dirigira Greta Garbo em sete filmes, concordou: “Há qualquer coisa por detrás dos olhos dela que não conseguimos decifrar. Algo que Garbo também tinha.” National Velvet transformou-a numa estrela e seria um dos seus filmes favoritos, juntamente com Who’s Afraid of Virginia Woolf?

Elizabeth Taylor tornara-se no ídolo de milhões de raparigas, e Mayer aumentou-lhe o salário para 30 mil dólares anuais. Quando os pais se separaram, a atriz não ligou muito, comentando que se sentia sem pai há anos. Foi educada na escola da MGM, mas sentia-se isolada do exterior. “Quando não filmávamos, íamos às aulas. Foi um pesadelo. Nunca tive uma educação decente.”

Quando fez 15 anos, Elizabeth começou a tornar-se num objeto sexual, na altura em que filmou Life With Father. Os censores encontraram problemas no decote e insistiram para que se colocasse uma laranja entre os seus seios – se o cameraman visse a laranja, tinha de afastar a câmara…

E também o seu temperamento firme evoluíra. Quando Louis Mayer chamou estúpida à mãe, Elizabeth ripostou: “Não se atreva a falar assim à minha mãe! Você e o seu estúdio podem ir para o inferno!” O poderoso Mayer destruíra carreiras de atrizes por muito menos, mas, neste caso, espantou-se com semelhante réplica e calou-se.

Quando Julia estreou, em 1948, um crítico do New York Herald Tribune chamou a Elizabeth, “uma das maiores rainhas da beleza e talento do cinema”. Mas o público demorou algum tempo a adaptar-se à sua imagem adulta. Howard Hughes e muitos outros convidavam-na para sair, mas a atriz recusava. Sobre Hughes, comentou que “precisava de um banho”. Conrad Hilton viria a casar com ela, mas foi outro homem que a conquistou.

VIDA TUMULTUOSA

Montgomery Clift seria o precursor de atores como Brando, James Dean, Dustin Hoffman, Al Pacino e Robert De Niro. Liz e Monty conheceram-se durante as filmagens de A Place in the Sun e, de imediato, ela encarou-o como um deus. Em 1997, comentou simplesmente: “Eu amava-o, mas apercebi-me, durante a rodagem, que ele era gay, talvez até mais do que ele próprio. E ajudei-o a lidar com isso, o que é extraordinário, já que fiz 16 anos durante as filmagens e não sabia nada sobre tais assuntos.”

A Paramount estava decidida a promover o duo, a ponto de os obrigar a aparecerem juntos em público, como sucedeu na estreia de The Heiress, o último filme de Clift. Liz estava habituada a tais eventos, mas Monty sussurrou-lhe no cinema: “É terrível, Bessie Mae.” Mais tarde, ela perguntou-lhe por que a tratara por esse nome e o ator respondeu: “Todo o mundo te chama Elizabeth Taylor. Só eu te posso chamar ‘Bessie Mae’.” A atração de Taylor era também espiritual e intelectual. Sendo, ela própria, uma rebelde, venerava-o por ser o primeiro ator a desafiar o studio system e a vencer.

Durante as filmagens, Clift ensinou a Taylor vários truques, e ela começou a estudá-lo. “O ator mais emocional com quem alguma vez trabalhei.” A química entre ambos originou o melhor trabalho das suas carreiras até então. Conformada com a rejeição romântica de Monty, foi Elizabeth que o ajudaria a estabilizar a sua identidade sexual e ficariam amigos para a vida toda. Tragicamente, Conrad Hilton apaixonou-se pela imagem, não pela mulher, casando com Taylor em 1949. Para a atriz, o casamento foi um “rebound” de Monty Clift.

Hilton passou a noite de núpcias a embebedar-se no bar. Depois de uma lua-de-mel infernal, veio um casamento horroroso, com o alcoólico Hilton a pontapear Liz na barriga, provocando-lhe um aborto espontâneo. Aos 18 anos e à beira do limite, a atriz foi internada por esgotamento nervoso e úlceras. No ecrã, sucediam-se os êxitos como Father of the Bride (1950) e Ivanhoe (1952). Taylor divorcia-se de Hilton após oito meses de “união”.

Pouco depois, conhece Michael Wilding, que se tornou no seu segundo marido entre 1952 e 1957, fase que coincidiu com um filme decisivo para Taylor: Giant (1956). Apesar dos desentendimentos com o realizador George Stevens, Liz torna-se amiga de James Dean e Rock Hudson. Hospitalizada devido a problemas gástricos, Taylor conseguiu, ainda assim, deixar para a História uma grande interpretação num filme mítico.

Em 1956, Montgomery Clift sai de uma festa em casa de Taylor e sofre um terrível acidente de automóvel. Liz foi uma das primeiras pessoas a chegar ao local, entrou no carro e, enquanto repetia, “vais ficar bem…” meteu-lhe a mão na boca e arrancou os dentes de Clift, que se tinham alojado na garganta, impedindo-o de respirar.

Depois de acompanhar o amigo ao hospital e de lá permanecer até se certificar de que Clift não morria, Taylor foi para casa, onde teve um colapso provocado pelo choque, ansiedade e depressão das últimas horas.

Casa, pela terceira vez, com Michael Todd, que amigos próximos dizem ter sido o amor da sua vida. O matrimónio durou cerca de um ano. A tragédia abateu-se de novo sobre a atriz: O avião particular de Todd, ironicamente chamado Lucky Liz, despenhou-se. Quando recebeu a notícia da morte do marido, Elizabeth Taylor ficou em estado de choque, tendo de receber doses regulares de morfina e outras substâncias.

Liz regressou às filmagens de Cat on a Hot Tin Roof (1958) visivelmente abalada e, entretanto, desenvolvera uma gaguez que não interferiu com o papel. “Eu só conseguia falar direito quando falava com o sotaque sulista de ‘Maggie the Cat’”, recordaria mais tarde. Os colegas repararam que Taylor não parecia a mesma, mas ficaram admirados com o seu profissionalismo.

Paul Newman não gostou dela, a princípio, mas, quando reparou nas “torrentes de emoção” que ela extravasava, mal a câmara a focava, mudou de ideias, aplaudindo a sua “ferocidade” e “instinto”. O autor da peça, Tennessee Williams, achou-a a melhor do filme e o ator Burl Ives chamou-lhe, “the best of the bunch”. O filme tornou-se noutro grande sucesso.

A “DARK VAMP”

Procurando um substituto para Mike Todd, Elizabeth conheceu Eddie Fisher – pai de Carrie Fisher, a ‘Princesa Leia’ de Star Wars, que nascera recentemente. Fisher era casado com a mãe de Carrie, Debbie Reynolds, mas, para ele, a mulher certa era sempre a próxima. Os dois envolveram-se numa altura em que Elizabeth bebia de mais, chegando a ser internada. Como se não bastasse, Liz cometeu uma gaffe monumental numa entrevista a Hedda Hopper. Quando esta lhe perguntou se não devia ter esperado algum tempo antes de se envolver com outro homem, a atriz respondeu: “O Mike está morto, eu estou viva. Espera que eu faça o quê? Que durma sozinha?” Isto caiu como uma bomba em Hollywood e no mundo ocidental. Chamaram-lhe “dark vamp”, “a destruidora de lares”. Em Beverly Hills, Fisher e Taylor eram insultados por transeuntes. Em toda a indústria, apenas Natalie Wood, Robert Wagner e Monty Clift falavam com ela.

O escândalo, contudo, subiu-lhe o salário. Na época, atores como Robert Mitchum, Anthony Perkins e Marilyn Monroe ganhavam, em média, 40, 75, 100 mil dólares. O de Taylor ascendeu aos 500 mil, quando abandonou a MGM. Contracenou de novo com Clift em Suddenly, Last Summer (1959) mais uma adaptação de Tennessee Williams, dramaturgo que agradava à atriz. Quis então participar em Cleopatra, mas a MGM lembrou-lhe que ela ainda lhes devia um filme: BUtterfield 8. Sob a ameaça de um processo e furiosa com a MGM, Taylor foi obrigada a fazer o papel de uma call girl que tenta mudar de vida. Por esta altura, Fisher explorava a fama da atriz e foi assim que conseguiu um papel no filme.

Chegando ao set constantemente atrasada três horas, Elizabeth abusou dos comprimidos, fumava como uma chaminé e não parava de beber. Acabou hospitalizada com uma inflamação em ambos os pulmões.

Embora desprezasse o filme, interpretou o papel de prostituta na perfeição, sedutora sem cair no vulgar, com firmeza e vulnerabilidade em simultâneo. Começaram as filmagens de Cleopatra. A ingerir comprimidos de demerol como se fossem rebuçados, além de antidepressivos e a ser injetada com duas doses de morfina diárias, Taylor acabou por ser novamente internada numa clínica londrina com problemas respiratórios graves. Liz regressou aos EUA, sendo a produção interrompida. As notícias sobre a sua luta contra a morte correram mundo.

Em Los Angeles, Taylor compareceu nos Óscares, nomeada pela quarta vez por BUtterfield 8. Posando para 50 fotógrafos, disse, “eu recupero sempre, viverei até aos 110 anos”. Ganhou inesperadamente na categoria de Melhor Atriz, o que, tanto ela como a maioria das pessoas consideraram um prémio de simpatia, por ter escapado à morte.

O CASAL DO SÉCULO

Elizabeth retomou as filmagens da superprodução Cleopatra. Contas feitas, em 2007 este filme teria custado 297 milhões de dólares. A equipa começou a trabalhar na Cinecittà, em Roma. E foi quando Richard Burton comentou que a atriz parecia “pornografia ambulante”. A 22 de Janeiro de 1962, contracenaram pela primeira vez. Anos depois, Liz relembrou que viu Burton sentado “a tremer da cabeça aos pés, sofrendo de uma terrível ressaca”. Por isso, foi-lhe buscar um café. O gesto ajudou a quebrar o gelo.

O realizador Joseph L. Mankiewicz gritou “acção” e Cleópatra diz, “depois de ter esperado tanto tempo…” Ao que Marco António responde, “tudo o que sempre quis amar e ter”. Depois, beijavam-se numa cena tipicamente hollywoodesca que… teve de ser repetida quatro vezes.

Mankiewicz perguntou: “Vocês os dois… importam-se que eu diga ‘corta’? Interessa-vos saber que são horas de almoçar?” O produtor Walter Wanger também reparou na química invulgar entre os dois e temeu que aquele “tornado” o fizesse perder as rédeas do filme. Avisou o realizador de que estavam “sentados em cima de um vulcão”.

Aos 37 anos, Richard Burton era um ator shakespeariano de méritos reconhecidos, mas era também casado, alcoólico e bissexual. Eddie Fisher foi posto de parte, e a produção tumultuosa e megalómana de Cleopatra avançou, atiçada pela imprensa de todo o mundo, que divulgava, mais uma vez, os comportamentos morais questionáveis de Elizabeth e também de Richard. E a atriz acabara de fazer “apenas” 30 anos. O filme, o mais caro de sempre até então, não foi um sucesso imediato, mas Elizabeth Taylor demoliu o velho studio system com o seu salário recorde de um milhão de dólares mais 10 % dos resultados de bilheteira. Era, por esta altura, a mulher mais poderosa em Hollywood.

Seguiu-se um filme que pretendeu aproveitar a popularidade mundial do duo: The Sandpiper de Vincente Minnelli, onde também participava Charles Bronson, que revelou ter gostado imenso de conhecer Burton e Taylor, mas admitiu que “o filme não funcionou. É muito retrógado. Parece uma história das revistas para meninas. E não há hipótese com Minnelli. Não adianta sugerir nada”.

Who’s Afraid of Virginia Woolf?, no ano seguinte,foi o regresso de Elizabeth à ribalta e o seu melhor papel de sempre. O jovem Mike Nichols, que Liz conhecera em Roma durante o escândalo de Cleopatra, foi aprovado pela atriz para a realização. Foi Nichols quem a ajudou a construir o papel de ‘Martha’, sugerindo que falasse num contralto por vezes exagerado. Taylor engordou e surge com um ar pouco atrativo, já que a personagem tem 52 anos. Eram  vários os paralelismos entre a relação conturbada de Taylor e Burton e a de ‘Martha’ e ‘George’. O filme foi um grande sucesso, ambos foram nomeados pela quinta vez para o Óscar, mas só Elizabeth o conquistou.

As críticas foram unânimes, e até Marlon Brando, ao receber por Liz o prestigiado prémio do New York Film Critics Circle, aproveitou para atacar os críticos, por demorarem tanto tempo a reconhecer o talento de Elizabeth.

A atriz, contudo, não foi à entrega dos Óscares. Foi Anne Bancroft que recebeu a estatueta das mãos de Lee Marvin. E, pela primeira vez na história da Academia, uma vencedora não emitiu um comunicado à imprensa. Quanto a Burton, o seu lado mulherengo antagonizara a maioria dos homens em Hollywood. Dormira com várias mulheres casadas. Foi essa a verdadeira razão da perda.

Em 1966, quando filmava Taming of the Shrew com Burton, Elizabeth recebe a notícia de que Montgomery Clift morrera em Nova Iorque, depois de convulsões provocadas pelo alcoolismo. Impedida de ir ao funeral devido às filmagens, enviou duas coroas de crisântemos com a mensagem, “descansa, espírito perturbado”.

A CURVA DESCENDENTE

Só em 1967, Elizabeth trabalhou em quatro filmes. No ano seguinte, acompanhou o marido durante a rodagem de Where Eagles Dare para o “manter na linha”, devido ao seu alcoolismo. Conheceram e tornaram-se amigos de Clint Eastwood. Mas o filme foi difícil para Burton. Numa cena, tinha de pegar numa barra de dinamite (era apenas madeira) e, embriagado, recusou-se. O realizador Brian Hutton chamou Liz, que gritou ao marido: “Não é dinamite, é madeira, seu tolo. Faz a cena!”

No meio de ofertas milionárias de jóias, da socialização com a realeza mundial, viagens, bebedeiras épicas, filmagens, extravagâncias e discussões, Richard e Elizabeth chegariam ao final da década de 60 desgastados por tanta exposição. O público queria ídolos mais jovens e ambos começaram a ser menos requisitados.

Fizeram vários filmes juntos, a maioria medíocre, com destaque para o descalabro de Boom! (1968) Liz já entrara em curva descendente, “tornou-se numa paródia de si própria, berrando como uma bruxa”, escreveu Rex Reed. Ao filmar Secret Ceremony, no mesmo ano, sofria de dores nas costas, pelo que a produção foi interrompida. O seu vício em álcool e barbitúricos aumentou, e Liz foi mais uma vez internada, para lhe removerem o útero.

Em 1974, Richard Burton juntou-se a Lee Marvin para as filmagens de The Klansman. Esta parelha de bebedores causou alvoroço na rodagem. Os assistentes de realização tinham de os segurar por detrás para os manterem direitos, depois de almoços que consistiam em 17 Martinis para cada um. Elizabeth Taylor visitou o set para desejar boa sorte a Lee Marvin, com quem se dava bem, mas este, embriagado, respondeu com, “vai-te, f…” Burton levantou-se da mesa pronto para intervir, mas Liz tomou conta da situação, com um sorriso. “Vejo que não mudaste nada, Lee.” Nunca mais lhe falou.

No entanto, a flagrante infidelidade de Burton com uma rapariga, despoletou a ira de Elizabeth, que se separou dele. Em sofrimento e com complexos de culpa, Burton começou a beber ainda mais, e apenas Lee Marvin conseguia comunicar com ele.

Richard bebeu uma garrafa de vodka de um gole só, certa manhã, ao pequeno-almoço; mudava de cor a cada cinco minutos e não parava de tremer. O realizador Terence Young e Marvin intervieram, chamando um helicóptero para levar o ator ao hospital de urgência, o que lhe salvou a vida. O casal divorciou-se nesse ano.

Burton recuperou, e teria uma carreira mais ou menos estável até à sua morte, em 1984, sendo nomeado pela Academia pela sétima vez por Equus (1977). Mas a década foi má para Elizabeth. Voltou a casar com Richard em 1975 e a divorciar-se em 1976. No mesmo ano, casou com o político John Warner, notoriedade que serviu de trampolim para este obter um lugar no Senado. A atriz vendeu o famoso diamante “Taylor-Burton” para financiar a campanha do marido. Warner sabia que iria ser sempre considerado o “Mr. Elizabeth Taylor”. Assim foi. O divórcio veio em 1982.

Ao longo dos anos 70 e início da década de 80, os papéis de Elizabeth foram-se tornando mais raros. Começou a aceitar trabalhos e cameos em séries de TV. Em 1983, bateu no fundo e foi novamente parar ao hospital. Desta vez, os médicos alertaram a família, especialmente os filhos, para o facto de Taylor se estar a autodestruir com álcool e comprimidos. Liz deu entrada no Betty Ford Center para uma desintoxicação.

Em Agosto de 1984, Richard Burton morreu, aos 58 anos. Surgiram problemas com a viúva de Burton, aquando do funeral, já que esta invejava que os anos mais felizes da vida do ator tivessem sido passados com Liz. A atriz foi à Suíça, ao túmulo do ex-marido, dias depois. Mais tarde, David Frost perguntou-lhe se lamentava que ela e Richard nunca mais se tivessem reunido, ao que Liz respondeu: “Tenho a certeza que isso acontecerá, um dia.”

A HUMANITÁRIA

Em 1985, Rock Hudson revelou que sofria de SIDA e que era homossexual. Elizabeth telefonou-lhe imediatamente, dizendo ao amigo que este gesto salvara milhões de vidas. Visitou-o no hospital e, numa época em que pouco se sabia sobre o contágio da doença, a atriz arriscou, abraçando-o e beijando-o na face, o que Hudson apreciou.

A luta de Liz contra a SIDA tivera início anteriormente, quando muitos dos seus amigos começaram a morrer vitimados pela doença. Indignada perante o silêncio do mundo, usou os seus contactos políticos, alertando com persistência o então presidente Ronald Reagan, para quem a palavra SIDA não existia.

A presidência não a podia ignorar. O nome de Elizabeth Taylor aliado a esta causa era incontornável. Surgiu nas capas de jornais e revistas de todo o mundo, com os seus olhos violeta mais determinados que nunca. Tornou-se na porta-voz da luta anti-SIDA, chegando a testemunhar no Congresso americano. A 1 de abril de 1987, Reagan finalmente anunciou: “Declarámos a guerra à SIDA como nossa prioridade nº 1.”

Em 1991, fundou a Elizabeth Taylor AIDS Foundation, que ainda hoje ajuda no combate à doença, angariando fundos e auxiliando pacientes infetados com o vírus.

O último papel de Liz Taylor no cinema foi um anti-clímax: The Flinstones (1994). Em 1997, submeteu-se a uma delicada cirurgia para remover um tumor do cérebro. Muitos temiam a sua morte, mas a atriz recuperou. Em 2001, o presidente Bill Clinton atribuiu-lhe a segunda mais importante medalha de reconhecimento a um cidadão norte-americano, a “Presidential Citizens Medal”, embora Liz tivesse dupla nacionalidade, mais um título para a Dame of the British Empire. Em 2009, foi novamente operada, desta vez ao coração. Em fevereiro de 2011, a sua insuficiência cardíaca voltou a manifestar-se, sendo internada para uma operação de urgência. Desta vez, não resistiu, tendo falecido na manhã de 23 de março, aos 79 anos.

Os olhos violeta apagaram-se para sempre, mas nunca houve outros iguais e nunca haverá.

David Furtado

12 pensamentos sobre “A vida e a carreira de Elizabeth Taylor, um ano depois da sua morte: Olhos Violeta

  1. Um texto estupendo,bem amarrado e que não nos cansa,um parágrafo após o outro é mais interessante,gostei do domínio textual e linguístico,continue assim e escreva mais sobre os atores e atrizes da Era de Ouro de Hollywood.

  2. De nada,e quero fazer um pedido a vossa senhoria,escreva sobre James Dean,Rock Hudson,Anthony Hopkins, Greta Garbo,Bette Davis e sobre O que teria Acontecido a Baby Jane? Tenho certeza que serão ótimos textos.

  3. Quanto ao filme que citei,está na hora de ser feito um remake dessa película,e gostaria muito de ver Gleen Close e Meryl Streep nos papéis que foram de Bette Davis e Joan Crawford,a parte que mais gosto é a da bofetada de Kate em Blanche na cadeira de rodas.

  4. Nossa ,incrível!! parabéns pelo texto
    muito bom saber mais sobre uma atriz lendária como a LIz, com ctz ela ainda sera lembrada por muitas gerações.

Comentários:

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